quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Morre o bispo dos grandes ideais


Natural de Apodi, adotado pela cidade de Mossoró, morreu ontem aos 83 anos de idade dom José Freire de Oliveira Neto.

Segundo bispo com origens fixadas na região, dom José governou a diocese durante 20 anos.

Com duas décadas de atuação direta no comando da Igreja em nível regional, dom José Freire pertence à safra dos bispos de grandes ideais, que marcou a era de ouro da Igreja no Brasil.

Na diocese, ele foi o bispo que abriu as portas da Igreja para os leigos, criou as assembleias de pastoral, aplicou o planejamento participativo e reacendeu as pastorais sociais.

Pertencente à geração dos militantes da Igreja Pós-Conciliar, tinha opções eclesiais claras e dedicava seu trabalho a causas nobres, ao lado de grandes religiosos do Nordeste, como Aloísio Lorscheider, José Maria Pires, Hélder Câmara, Paulo Evaristo, Eugênio Sales e Luciano Mendes.

Na época em que assumiu o comando da Igreja na Diocese de Mossoró, dom José Freire foi responsável pelo desenvolvimento de um importante trabalho num período de transição sociopolítico do país.

Naquela época, 1984, ainda vivendo sob a ditadura militar, havia no episcopado brasileiro uma natural divisão entre os bispos.

Mesmo diante da instabilidade dom José optou ficar do lado do povo, lutando pelo resgate da democracia, justiça social e pela liberdade de expressão.

Iniciou seus estudos de padre no Seminário de Santa Teresinha, em Mossoró, deu andamento no Seminário de São Leopoldo (RS) e concluiu com o mestrado em Ciências da Educação, com especialização em Catequese, pela Pontifícia Universidade Salesiana, em Roma.

"Era nostálgico e, ao mesmo tempo, divertido, escutar dom Freire falando da sua bela história vocacional. Várias vezes, no Seminário de Santa Teresinha, tivemos a oportunidade de escutá-lo: narrava com detalhes, desde o dia em que chegou de trem a Mossoró para entrar no seminário menor, suas viagens de navio a São Leopoldo, sua relação de amizade com Sátiro e Américo, que, na época, também eram seminaristas", destaca o padre Talvacy Chaves, que estuda Comunicação Social em Roma.

Após décadas dedicadas à religião e às causas sociais, dom José Freire parte deixando uma marca no zelo pelas pastorais sociais: Ceapac (Centro de Apoio a Projetos Alternativos Comunitário), CPT (Comissão da Pastoral da Terra) Cáritas, Pastoral da Criança, entre outras.

"Dom Freire entendia que ser pastor em uma realidade onde a maioria vive à margem dos direitos humanos básicos, não priorizar a pastoral social, seria como marginalizar na Igreja o próprio Jesus Cristo, ou seja, relativizar o tão sonhado Reino de Deus, revelado por Jesus nas Bem-Aventuranças de Mateus", conclui Talvacy Chaves.

Dom José Freire passou nove dias em coma profundo após sofrer Acidente Vascular Cerebral

Dom José Freire começou a se sentir mal na madruga do dia 31 de dezembro, sábado. De acordo com sua irmã, Maria do Socorro Freire, o bispo tentou levantar-se para conseguir ajuda e caiu, o que provocou uma lesão ainda maior. O Serviço Móvel de Urgência e Emergência (Samu) foi acionado, e o religioso foi levado ao Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM). Fez o exame de tomografia, no qual se constatou um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Foi operado às pressas na manhã daquele mesmo dia, mas não reagiu após a retirada da sedação. Encaminhado para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Hospital Wilson Rosado, permaneceu nove dias em coma profundo. Por volta das 2h30 de ontem, o bispo morreu, vítima de parada cardíaca. Às 6h37, a Diocese de Mossoró comunicou o fato oficialmente por intermédio de seu blog.

O AVC hemorrágico ocorre pela ruptura de um vaso sanguíneo dentro do crânio. Em contato com o tecido nervoso, o sangue provoca ação irritativa. A inflamação e o efeito da pressão exercida pelo coágulo prejudicam e degeneram a função cerebral. No último dia 31, dom Freire deve ter tido sintomas como dificuldade de mover o rosto, de movimentar os braços e de falar, fraqueza nas pernas e problemas de visão.

Em entrevista à imprensa local na semana passada, o médico Bernardo Rosado, que acompanhou o quadro clínico do bispo, havia alertado para a situação, considerada "crítica". A pressão sofrida pelo crânio era forte e a idade de dom Freire - 83 anos -, muito avançada. O fato de não ter dado sinais positivos após a sedação também desanimava. Até a madrugada de ontem, quando morreu, o bispo respirava com ajuda de aparelhos.

(Retirado do Jornal O Mossoroense)

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