Os números locais são ainda mais alarmantes que a média nacional que colocou o Brasil como líder mundial de cesarianas. 52% dos nascimentos de bebês no País são realizados através desse procedimento.
Mais de 75% dos partos realizados no primeiro trimestre
deste ano em Mossoró foram através de cesarianas. Dos 1.508 bebês que nasceram
nas três unidades hospitalares do município que atuam como maternidade, apenas
343, cerca de 23%, vieram ao mundo por parto normal, os outros 1.165, que
correspondem a um percentual aproximado de 77%, nasceram por meio de
cesarianas.
Os índices locais são ainda mais alarmantes que a média
nacional que colocou o Brasil como líder mundial de cesarianas. 52% dos
nascimentos de bebês no País são realizados através desse procedimento,
contrariando o percentual recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS),
que é de 15%. Segundo os dados nacionais, na rede privada, o índice sobe para
83%, chegando a mais de 90% em algumas maternidades.
Mulheres como Eliane Samara Fonseca, que têm filhos
através do parto normal, fazem parte de um grupo cada vez menor. Poucas horas
após dar a luz ao seu segundo filho, Miguel Lucas, nascido no mês passado, a
jovem já conversava tranquilamente.
Essa foi a segunda vez que optou pelo parto normal. Na
primeira vez em que deu à luz a um filho, o primogênito, hoje com dois anos e
oito meses, foi o médico que aconselhou a esperar e não optar pela cirurgia. “O
médico incentivou bastante, dizendo que eu tinha capacidade de ter normal e eu
esperei”, relembra.
A experiência foi aprovada e repetida e são muitos os
benefícios relatados por Eliane: “Porque a recuperação é bem mais rápida e o
risco é menor”, afirma.
Eliane fez pré-natal desde o início da gestação e, com
a opção pelo parto normal, pôde participar também de todo o processo e assistir
a tudo. A dor, segundo ela, é forte na hora, mas, assim que o bebê nasce a
sensação vai embora.
Porém, com a maior parte das mulheres que são mães não
é assim que tem acontecido.
Dos 4.299 partos realizados no ano passado na Casa de
Saúde Dix-sept Rosado (CSDR), maternidade que atende ao maior número de
gestantes em Mossoró, somente 770, aproximadamente 18%, foram normais ou
vaginais, os demais 3.529, ou 82%, foram por cesarianas.
Este ano, no primeiro trimestre, o percentual ficou bem
próximo e dos 1.102 partos realizados na unidade, 882, equivalente a 80%, foram
por cesarianas e somente 220, que corresponde a 20%, foram normais.
Já no Hospital da Mulher (HM) foram realizados 348
partos durante os meses de janeiro a março. Desses, 120, ou 34%, foram normais
e 228, ou 66%, foram por cesarianas, segundo dados do Serviço de Arquivo Médico
e Estatística (SAME).
No hospital que realiza apenas partos de pacientes do
sistema particular ou plano de saúde, por sua vez, embora o número de
procedimentos seja menor, o percentual de cesarianas é maior. Dos 58 partos
realizados no primeiro trimestre, apenas três, que correspondem a 5%, foram
normais, os outros 55, que representam 95% do total, foram por meio de
cesarianas.
A enfermeira e componente do Grupo Técnico da Rede
Cegonha na Casa de Saúde Dix-sept Rosado, Flávia Maria de Oliveira, acredita
que um dos fatores que contribui para esse índice elevado de cesarianas é a
falta de preparo da mulher para um parto natural desde o início da gestação.
“Eu acho que a mulher não é preparada desde o pré-natal”, comenta. Ela conta
que a CSDR trabalha a questão do parto humanizado, mas a gestante, às vezes, já
chega do consultório querendo a cesariana. A enfermeira crê que, quando a
preparação ocorre, a mulher opta pelo parto normal.
Ela acrescenta que a Casa de Saúde tem um perfil de
atender pacientes de alto risco de Mossoró e região e, em muitos casos, a
gestante já chega à unidade com indicação de cesariana.
Edlene Torquato, que também é enfermeira na unidade,
lembra o filme ‘O renascimento do parto’, que trata do assunto e cita um
episódio em que uma mulher chega ao consultório médico com o desejo de ter o
bebê por parto normal e o profissional diz: ‘Vamos ver se você vai ter
condições’.
Em suas diretrizes gerais e operacionais, o programa
Rede Cegonha estipula que as mulheres devem ter assegurado o direito de atenção
humanizada durante a gestação, o parto e o pós-parto. Flávia Maria de Oliveira
informa que uma das diretrizes do programa estipula, justamente, a diminuição
do número de cesárias em até 10% ao ano.
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*Fonte: Jornal Gazeta do Oeste