A reunião do Conselho Municipal de Saúde de Mossoró
(CMS), ocorrida semana passada, debateu por mais de cinco horas os problemas
vivenciados no setor da saúde no município. Débitos milionários com hospitais,
Unidades de Terapia Intensivas (UTIs) sob a ameaça de fechamento, centenas de
pessoas sofrendo com a falta de atendimento denunciam que a cidade enfrenta uma
das suas maiores crises no setor.
Durante o encontro, o diretor do Hospital Wilson
Rosado (HWR), Bernardo Rosado, se emocionou ao falar da grave crise na saúde em
Mossoró. Ele revela que o débito da prefeitura com o HWR chega a R$ 3,5
milhões. As 10 UTIs Pediátricas estão há oito meses sem receber pagamento pela
Prefeitura, outras 10 UTIs adultas correm o risco de fechar pelo mesmo motivo e
os cardiologistas também não recebem pagamento há um ano.
O vereador Genivan Vale (PROS) lamenta essa
situação. Ele lembra que a instalação de UTIs pediátricas no município foi uma
luta da sociedade, e hoje Mossoró corre o risco de perder esse serviço.
Quanto à suspensão das cirurgias oncológicas, que
vem prejudicando centenas de pessoas desde agosto do ano passado, a promotora
federal Lídia Nóbrega chegou a entrar com uma ação civil pública na Justiça
Federal para que o município retomasse imediatamente o serviço. O pedido chegou
a ser acatado pelo Judiciário em dezembro, mas a decisão foi descumprida pela
prefeitura.
ÍNDICES PREOCUPANTES
Todavia, o problema da saúde pública não se resume
aos débitos com hospitais e impasse entre servidores, que culminam em
suspensões de serviços essenciais. Também falta atenção na saúde básica e nos
indicadores de saúde, segundo revelaram especialistas que participaram do
encontro.
De acordo com a médica Jandira Freitas, a cobertura
do programa da Equipe da Saúde da Família (ESF) está em 72% da população,
abaixo dos 85% propagados pelo governo municipal. Além disso, dos 67
indicadores do Ministério da Saúde (MS), o município atingiu o nível mínimo em
33 itens. “Caso a situação volte a se repetir, Mossoró corre o risco de perder
recursos do governo federal”, alerta a especialista.
Outro dado preocupante foi com relação aos óbitos
de parturientes e recém-nascidos. No último ano, houve um aumento. Em 2013, não
foi registrado óbito em Mossoró, enquanto no ano passado foram oito.
PROBLEMAS NA
ATENÇÃO BÁSICA
Também faltam, segundo a médica Gisela Reis Lopes,
incentivos na saúde básica no município. Ela revela que há uma inversão de
valores, que faz com que os médicos não queiram atuar no setor. “Um médico da
atenção básica ganha em um mês o salário base de R$ 1.300, enquanto que um
plantonista na UPA ganha R$ 800 por um plantão de 12h. Ou seja, em 24h o
profissional da UPA ganha mais do que um médico trabalhando o mês inteiro na
atenção básica. Isso é desestimulante”, desabafa.
Diante da situação crítica, inclusive com morte de
pessoas por falta de cirurgias de câncer, o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Laboratórios e Pesquisas dos Hospitais
Particulares de Mossoró (Sintrapam), Luiz Avelino,
chegou a propor que o Conselho deliberasse sobre o pedido de prisão do gestor
pelo caos na saúde. Sugestão que foi endossada pela representante do Sindicato
dos Servidores Públicos Municipais de Mossoró (Sindiserpum), Vera Denise.
Ela sugere ainda que Município pague as dívidas com
aos diferentes setores da saúde e caso não tenha recursos, decrete calamidade
pública, para facilitar a vinda de verbas. A sindicalista também exigiu o
relatório de planejamento da saúde.
QUEIXAS DO CMS
O presidente do CMS, Gilberto Pedro, relatou que
até mesmo o Conselho não recebe da Prefeitura a atenção merecida. Ele relata
que antes o Conselho recebia R$ 6 mil ao ano da Prefeitura para a manutenção do
colegiado. Porém, na atual gestão, o recurso foi aumentado para R$ 40 mil, mas
o valor não é repassado. “Antes recebíamos um valor certo por ano, agora que o
recurso aumentou, ironicamente não recebemos mais nada, nem mesmo os seis mil
reais”, lamenta.
Gilberto Pedro informou ainda que há um ano tenta
audiência com o prefeito Francisco José Júnior (PSD), sem sucesso. “É preciso
que a prefeitura se conscientize que auditores e consultores estão no mesmo
patamar na Secretaria Municipal de Saúde. Eles precisam ser ouvidos nas tomadas
de decisão”, diz Genivan Vale.
*Assessoria de Comunicação
Nenhum comentário:
Postar um comentário