Muito presente na sabedoria popular e indicada para evitar os mais diversos problemas do cotidiano, a velha máxima “prevenir é melhor do que remediar” está na ponta da língua do povo em todo o País. No entanto, justamente quando o assunto é saúde, especialmente falando dos cânceres de mama e do colo do útero, o Brasil ainda precisa avançar na prática desse ditado.
Embora tenham bons prognósticos se descobertos no estágio inicial e tratados da maneira adequada, os dois tipos de tumor foram responsáveis pela morte de 17.691 mulheres brasileiras em 2010. O número, considerado alto pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), é atribuído pelo órgão a possibilidade de a detecção estar acontecendo em fases mais avançadas da doença, o que dificulta sua cura.
Diante de tal cenário, nasceu em março deste ano, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o projeto Saúde da Mulher, vinculado ao Programa de Qualidade de Vida, da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGESP). Coordenado pelas enfermeiras Lúcia Freire e Luciana Eduardo, a equipe quer conscientizar a comunidade acadêmica, sobretudo o público feminino, no que diz respeito à prevenção do câncer do colo do útero e ao diagnóstico precoce de câncer de mama.
“Vamos trabalhar a promoção à saúde. Infelizmente, muitos procuram ajuda médica somente quando não suportam mais. Queremos mostrar a importância da prevenção e criar essa cultura nas mulheres da Universidade”, explica Luciana Eduardo. O objetivo é ampliar a política de atenção e assistência integral à saúde da mulher na UFRN e, além de prevenir os tumores, promover o pré-natal e o tratamento de doenças sexualmente transmissíveis como o HPV e a AIDS.
Lançado em uma data emblemática, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o projeto comemorou seu primeiro mês realizando atividades em outra data de grande significado: o Dia Mundial de Combate ao Câncer, celebrado em 8 de abril. Com pôsteres, folhetos e muito diálogo, a equipe ensina o autoexame da mama e instrui sobre a importância do preventivo no diagnóstico precoce.
De acordo com dados do Inca, o câncer de mama é o mais comum entre mulheres e tem sido anualmente responsável por 22% dos novos casos registrados. Já o do colo de útero, segundo mais comum na população feminina, é a quarta causa de morte pela doença no Brasil. No Rio Grande do Norte, a estimativa de 2012 indica 580 casos de câncer de mama e 230 de colo do útero. Desses, 210 do primeiro tipo e 80 do segundo foram na capital potiguar.
Estatísticas apontam para uma melhora na antecedência do diagnóstico. Na década de 1990, 70% dos casos de câncer do colo do útero eram identificados na fase invasiva, quando já é difícil a reversão. Atualmente, 44% dos diagnósticos são de lesão precursora do tumor, mas, para Aldair Paiva, oncologista e coordenador do Serviço de Oncohematologia do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), os números ainda revelam a falta de conhecimento da população sobre a doença e o baixo investimento do poder público em prevenção.
“É totalmente possível evitar o câncer do colo do útero. Além dos meios mecânicos, como o uso de preservativo, existe a vacina contra o HPV, que ainda é cara, e a educação para a população de risco”, afirma. “Prevenir salva a vida, evita os tratamentos invasivos e acaba saindo mais barato. Vale a pena os governos investirem nessa solução”, opina Aldair. O especialista reforça a importância do teste de Papanicolau, exame que previne a doença e leva o nome do seu idealizador, o médico grego Georgios Papanicolau.
Nesse contexto, além de ações em eventos, o Saúde da Mulher pretende se aproximar ainda mais do público feminino da UFRN, realizando as chamadas consultas coletivas. Com duração média de 20 minutos, um dos momentos mais importantes da reunião é a demonstração do autoexame da mama, na qual é utilizado um par de seios de pano que contém pequenos nódulos e podem ser identificados no aprendizado da técnica. A prevenção do HPV e do câncer do colo uterino também é bem enfatizada nos encontros.
“Essas atividades já aconteciam de maneira esporádica, mas resolvemos sistematizar as ações para torná-las mais eficientes”, afirma Luciana Eduardo, explicando o surgimento do projeto, sediado na Diretoria de Atenção à Saúde do Servidor (DAS). A enfermeira ainda ressalta que o DAS tem totais condições de prestar assistência por meio de atendimentos individuais agendados e dos exames periódicos.
Números ambulatoriais de 2012 mostram que foram realizadas 422 consultas ginecológicas, 106 preventivos e 647 atendimentos de planejamento familiar. Outros procedimentos relacionados à saúde da mulher, como biópsia e eletrocauterização do colo do útero, colposcopia, inserção de DIU e curativos ginecológicos também são realizados pela equipe de profissionais do DAS, composta por médicos, nutricionistas, enfermeiros e técnicos de enfermagem.
Segundo Lúcia Freire, diretora do DAS e uma das coordenadoras do Saúde da Mulher, o projeto busca proporcionar às servidoras e seus familiares qualidade de vida e bem estar em sua plenitude, nos âmbitos físico, mental e social, conforme conceito da Organização Mundial de Saúde (OMS). Ela ainda ressalta que durante esse contato com as pacientes já foi possível colher alguns bons frutos do trabalho.
“Houve um caso de diagnóstico precoce obtido em nossos consultórios. A paciente foi encaminhada para o tratamento adequado e já se recuperou. Recebemos, inclusive, um contato do marido em gratidão”, relata Lúcia. Mas ela tem consciência de que o trabalho está apenas começando: “precisamos sensibilizar os gestores de unidades para levar esse conhecimento a um número cada maior de mulheres na comunidade acadêmica”.
*Jornal Gazeta do Oeste