terça-feira, 16 de junho de 2015

Problema persistente

No final de janeiro, quando as atenções estavam voltadas para o Dia de Luta contra a Hanseníase, o Ministério da Saúde divulgou dados da situação brasileira aparentemente positivos: a taxa de prevalência caiu 68% nos últimos dez anos, passando de 4,52 por 10 mil habitantes, em 2003, para 1,42 por 10 mil habitantes, em 2013. Mas o ritmo da queda não será suficiente para cumprir um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas: eliminar a hanseníase até o fim de 2015 — o que significa registrar no máximo um caso a cada 10 mil habitantes. Assim, o Brasil segue com dois títulos perversos: o único país do mundo que não conseguiu eliminar a doença e o que concentra mais casos novos dela a cada ano.

Presente ao Apelo Global 2015 por um Mundo sem Hanseníase, evento realizado no Japão, o coordenador nacional do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Artur Custódio, teve uma dimensão da repercussão internacional dos índices brasileiros. “As pessoas se perguntavam quais eram as estratégias que podiam auxiliar mais o país e por que não conseguimos chegar a um caso a cada 10 mil habitantes”, contou ele à Radis.

O ministro da Saúde, Arthur Chioro, disse em entrevista coletiva que “não trabalha com datas” para a eliminação da hanseníase: “Mais que estabelecer uma data, no SUS buscamos consistentes avanços dos indicadores da doença”. 

Segundo ele, o Brasil tem melhores condições de controlar os casos desde a criação do Mais Médicos, que expandiu a atenção básica, levando equipes com médicos para áreas de difícil acesso, justamente onde a prevalência de hanseníase é maior. “O controle não se dá com vacina ou só com informação; depende do diagnóstico e do tratamento, portanto, da presença de médicos”.

A hanseníase é uma doença infecciosa, contagiosa, associada a desigualdades sociais, pois afeta principalmente as regiões mais carentes do mundo. É transmitida pelas vias aéreas (secreções nasais, gotículas da fala, tosse, espirro) por pacientes considerados bacilíferos, ou seja, sem tratamento — aqueles que estão sendo tratados deixam de transmitir. 

Os principais sintomas são dormências, dor nos nervos dos braços, mãos, pernas e pés; lesões de pele (caroços e placas pelo corpo) com alteração da sensibilidade ao calor, ao frio e ao toque e áreas da pele com alteração da sensibilidade mesmo sem lesão aparente; e diminuição da força muscular. Essas manchas são esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas. 

O diagnóstico precoce é fundamental, pois evita a evolução da enfermidade para as incapacidades e deformidades físicas. “Hanseníase: quanto antes você descobrir, mais cedo vai se curar” é o mote da campanha lançada em janeiro pelo Ministério da Saúde, que inclui a busca ativa de casos em escolas públicas. Isso porque, quando se identifica uma criança com a doença, existe um adulto do seu convívio ainda sem diagnóstico e tratamento. Em 2014, dos 5,6 milhões de estudantes de 5 a 14 anos examinados, 354 foram diagnosticados com hanseníase, representando 0,15%. 


*Fonte: Resvista Radis

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