No final de janeiro, quando as atenções estavam voltadas
para o Dia de Luta contra a Hanseníase, o Ministério da Saúde divulgou dados da
situação brasileira aparentemente positivos: a taxa de prevalência caiu 68% nos
últimos dez anos, passando de 4,52 por 10 mil habitantes, em 2003, para 1,42
por 10 mil habitantes, em 2013. Mas o ritmo da queda não será suficiente para
cumprir um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidos pela
Organização das Nações Unidas: eliminar a hanseníase até o fim de 2015 — o que
significa registrar no máximo um caso a cada 10 mil habitantes. Assim, o Brasil
segue com dois títulos perversos: o único país do mundo que não conseguiu
eliminar a doença e o que concentra mais casos novos dela a cada ano.
Presente ao Apelo Global 2015 por um Mundo sem Hanseníase,
evento realizado no Japão, o coordenador nacional do Movimento de Reintegração
das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Artur Custódio, teve uma
dimensão da repercussão internacional dos índices brasileiros. “As pessoas se
perguntavam quais eram as estratégias que podiam auxiliar mais o país e por que
não conseguimos chegar a um caso a cada 10 mil habitantes”, contou ele à Radis.
O ministro da Saúde, Arthur Chioro, disse em entrevista
coletiva que “não trabalha com datas” para a eliminação da hanseníase: “Mais
que estabelecer uma data, no SUS buscamos consistentes avanços dos indicadores
da doença”.
Segundo ele, o Brasil tem melhores condições de controlar os casos
desde a criação do Mais Médicos, que expandiu a atenção básica, levando equipes
com médicos para áreas de difícil acesso, justamente onde a prevalência de
hanseníase é maior. “O controle não se dá com vacina ou só com informação;
depende do diagnóstico e do tratamento, portanto, da presença de médicos”.
A hanseníase é uma doença infecciosa, contagiosa,
associada a desigualdades sociais, pois afeta principalmente as regiões mais
carentes do mundo. É transmitida pelas vias aéreas (secreções nasais, gotículas
da fala, tosse, espirro) por pacientes considerados bacilíferos, ou seja, sem
tratamento — aqueles que estão sendo tratados deixam de transmitir.
Os principais sintomas são dormências, dor nos nervos dos
braços, mãos, pernas e pés; lesões de pele (caroços e placas pelo corpo) com
alteração da sensibilidade ao calor, ao frio e ao toque e áreas da pele com
alteração da sensibilidade mesmo sem lesão aparente; e diminuição da força
muscular. Essas manchas são esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas.
O diagnóstico precoce é fundamental, pois evita a evolução
da enfermidade para as incapacidades e deformidades físicas. “Hanseníase:
quanto antes você descobrir, mais cedo vai se curar” é o mote da campanha
lançada em janeiro pelo Ministério da Saúde, que inclui a busca ativa de casos
em escolas públicas. Isso porque, quando se identifica uma criança com a
doença, existe um adulto do seu convívio ainda sem diagnóstico e tratamento. Em
2014, dos 5,6 milhões de estudantes de 5 a 14 anos examinados, 354 foram
diagnosticados com hanseníase, representando 0,15%.
*Fonte: Resvista Radis
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