No Brasil é crescente
o número de adolescentes grávidas, isto é, pessoas na faixa etária dos 10 aos
21 anos. Em Mossoró, a quantidade de adolescentes grávidas têm se mantido
estável. Para se ter uma ideia, nos últimos três anos ela gira em torno de 23%,
representando assim 314 jovens apenas no município. O que preocupa no momento
as autoridades é a redução da faixa etária dessas gestantes, que varia entre 10
e 19 anos.
Segundo dados
fornecidos pela Atenção Básica à Saúde de Mossoró, das 1.362 gestantes
cadastradas na rede de saúde pública da cidade 19 delas estão na faixa etária
dos 10 aos 14 anos, e 295 entre os 15 e 19 anos. "O que podemos perceber
com esses dados é que as mulheres estão começando a ter uma vida sexual ativa
mais cedo. Antes eram registrados cerca de 5 a 6 casos no município de jovens
grávidas na idade dos 10 a 14 anos, atualmente 19 foram registrados",
disse a coordenadora de Saúde da Mulher, Vandja Lima.
Ainda de acordo com as
informações passadas pela coordenadora, os índices de gravidez são maiores em
áreas localizadas na zona norte da cidade, nos bairros Santa Helena, Barrocas,
Santo Antônio e Estrada da Raiz.
Vandja Lima explicou
que um dos principais motivadores da gravidez nessa faixa etária é a falta de
procura por ajuda. "O que mais se presencia nos postos de saúde é a
ausência de jovens buscando tirar dúvidas sobre sexo. Eles só aparecem nas
unidades de saúde quando contraem alguma doença sexualmente transmissível ou em
casos de gravidez".
A enfermeira Niusenir
Jales disse que a Unidade Básica de Saúde Sinarinha Borges, situada no bairro
Barrocas, atende anualmente 36 jovens mães. "A faixa etária das
adolescentes atendidas varia dos 15 aos 17 anos. O que se percebe durante a
realização dos pré-natais é que essas mães não engravidaram por acaso,
motivadas pela falta de informação. Ao contrário disso, elas desejaram a
gestação", esclareceu a enfermeira.
É o que confirma a
adolescente Priscila Carla, que engravidou aos 17 anos. "Minha gravidez
não ocorreu por falta de informação, pois o que mais os jovens têm hoje em dia
é acesso ao conhecimento, seja através de livros, revista ou até mesmo pela
internet. O que ocasionou minha gestação foi a falta de preservativo".
Outro fator apontado
pela grande incidência de gravidez durante a adolescência é o contexto
familiar. Jovens que iniciam a vida sexual precocemente e engravidam, na
maioria das vezes tem o mesmo histórico dos pais. A liberdade sexual, o hábito
de "ficar" em encontros eventuais e a não-utilização de métodos
contraceptivos fazem com que a cada dia a atividade sexual infantil e juvenil
cresça.
Engravidar traz
diversas responsabilidades e dificuldades para os pais da criança. A gravidez
quando ocorre durante a adolescência traz ainda mais dificuldades para o casal,
pois na maioria dos casos esse tipo de gestação não é planejada, tampouco
desejada, e acontece em meio a relacionamentos sem estabilidade emocional e
financeira.
De acordo com
profissionais da área da saúde, a gravidez durante a adolescência traz diversas
mudanças para a vida dos jovens, sejam elas de cunho físico, social ou
psicológio.
No âmbito físico, os
primeiros problemas podem aparecer ainda no início da gravidez, incluindo
situações de aborto espontâneo, ocasionadas por desinformação e ausência de
acompanhamento médico, gerado muitas vezes pelo medo em revelar aos pais a
gestação. Essa atitude pode trazer risco de morte, tanto para a mãe quanto para
o recém-nascido.
Segundo a
coordenadora de saúde da mulher, Vandja Lima, não há como saber o número de
abortos realizados pelas jovens mossoroenses. "Tentamos obter esses dados
para podermos analisar se eles acontecem com frequência em nossa região e quais
seriam as formas de se combater essa prática tão arriscada, porém os abortos
registrados no município, seja por causas naturais ou provocados, não contém a
idade das mulheres".
No âmbito social, um
dos grande problemas enfrentados pelos jovens é a evasão escolar. "Muitas
adolescentes, quando engravidam, abandonam a escola para cuidar dos filhos. Já
os pais da criança também abandonam os estudos para poder ser dedicar a um
emprego para sustentar a nova família", explicou Vandja Lima.
Como apontam os
psicólogos, normalmente os adolescentes passam por grandes questões como a
aceitação por parte do grupo de amigos, dúvidas sobre a carreira profissional a
ser seguida, bem como preocupações em relação às mudanças físicas. Casos de
gravidez durante esse período podem então alavancar problemas como depressão,
déficit de autoestima, isolamento social, entre outros.
Para diminuir a
incidência de gravidez nessa faixa etária e muitas das dificuldades que surgem
durante esse período, a equipe de Atenção Básica à Saúde vem realizando um
programa de educação sexual nas escolas da rede pública de ensino.
"A gente sabe
que os jovens recebem grande número de informações, mas é importante reforçar
quais são os perigos no uso de drogas, quais são as Doenças Sexualmente
Transmissíveis e como são as formas de contágio, bem como o alerta para
utilização de meios contraceptivos durante as relações sexuais. Além disso,
muitas informações recebidas pelos jovens contêm falhas e precisam ser
esclarecidas", esclareceu Vandja Lima.
*Jornal O Mossoroense
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