terça-feira, 4 de junho de 2013

Bom era no meu tempo!

Todos nós temos uma tendência a achar, e a proclamar, que as coisas eram melhores no nosso tempo. Ela começa logo depois dos trinta, quarenta anos, e vai se agravando cada vez mais. Principalmente quando se trata de música popular, jogadores ou times de futebol, brincadeiras, festas, filmes e até lideranças políticas, ouve-se frequentemente: “bom era no meu tempo!” É uma saudade incrível desse “meu tempo”, que devia ser o melhor dos mundos, mas o mais incrível é que o meu “meu tempo” é diferente do seu “meu tempo”, e eu sempre acho que o meu era melhor do que o seu. Porque “bom era no meu tempo!”

Uns têm saudade da seleção de Zico, Sócrates, Falcão e Júnior: “aquilo é que era time!” Outros choram pela de Pelé, Tostão, Rivelino e Jairzinho: “time? Time era aquele, isso sim!” Mas a voz da experiência diz: “ora, vocês não viram o Rei e Garrincha jogando juntos no mesmo time... Isso, só no meu tempo!...” Meu pai, por exemplo, achava que a maior seleção de todos os tempos foi a da copa de 38, que ele ouviu pelo rádio, cuja escalação desfiava completinha, terminando com “Leônidas, Perácio e Patesko”.

Há quem diga que música popular boa mesmo era a do tempo dos vozeirões: Vicente Celestino, Francisco Alves, Nélson Gonçalves, por aí. Outros, acham que ela nunca mais foi tão grande quanto na Bossa Nova. Ou no Tropicalismo. Ou na Jovem Guarda. Mas existem os mais novos que se lamentam pelo fim do rock dos anos 80: Legião, Barão, Ultraje, Miquinhos Amestrados e outros bichos. E assim por diante.

O Eclesiastes ensina que há um tempo para todas as coisas. Mas “bom era no meu tempo!” Como, se o meu nunca é igual ao seu? Ambos são bons? Então não era bom só no “meu tempo”... E todos os “tempos” podem ser igualmente bons?

João Ubaldo Ribeiro, numa entrevista, afirmou que se irrita quando vê gente da idade dele com saudade dos anos sessentas, dizendo: “ah, no meu tempo é que era bom!...” Saudade de quê? O país vivia numa ditadura, tudo era muito mais precário, mais difícil, mais longe... Havia muito mais pobreza e desgraças bem piores que as de hoje. Então, por que essa nostalgia?

A verdade é que não se tem saudade propriamente das coisas daquele tempo, mas desse tempo em si. Salvo quem teve uma infância ou juventude muito difícil, a gente tem saudade é da própria mocidade, do tempo em que era criança e jovem. Temos saudade, portanto, de nós mesmos. Só que em outro tempo.


• A Professora Maria Tereza de Queiroz Piacentini (www.linguabrasil.com.br), a quem publicamente agradeço, observa, com toda a razão, a respeito do meu artigo sobre o subjuntivo, que no inglês esse modo verbal existe, sim, só que é igual ao indicativo em quase todos os verbos. Mas em alguns poucos, como to be (ser e estar), ele aparece: God BE with you, e não God IS with you, é Deus esteja com você.

*Marcelo N. R. Dantas - professor (Tribuna do Norte)

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