Todos nós temos uma
tendência a achar, e a proclamar, que as coisas eram melhores no nosso tempo.
Ela começa logo depois dos trinta, quarenta anos, e vai se agravando cada vez
mais. Principalmente quando se trata de música popular, jogadores ou times de futebol,
brincadeiras, festas, filmes e até lideranças políticas, ouve-se
frequentemente: “bom era no meu tempo!” É uma saudade incrível desse “meu
tempo”, que devia ser o melhor dos mundos, mas o mais incrível é que o meu “meu
tempo” é diferente do seu “meu tempo”, e eu sempre acho que o meu era melhor do
que o seu. Porque “bom era no meu tempo!”
Uns têm saudade da seleção
de Zico, Sócrates, Falcão e Júnior: “aquilo é que era time!” Outros choram pela
de Pelé, Tostão, Rivelino e Jairzinho: “time? Time era aquele, isso sim!” Mas a
voz da experiência diz: “ora, vocês não viram o Rei e Garrincha jogando juntos
no mesmo time... Isso, só no meu tempo!...” Meu pai, por exemplo, achava que a
maior seleção de todos os tempos foi a da copa de 38, que ele ouviu pelo rádio,
cuja escalação desfiava completinha, terminando com “Leônidas, Perácio e
Patesko”.
Há quem diga que música
popular boa mesmo era a do tempo dos vozeirões: Vicente Celestino, Francisco
Alves, Nélson Gonçalves, por aí. Outros, acham que ela nunca mais foi tão
grande quanto na Bossa Nova. Ou no Tropicalismo. Ou na Jovem Guarda. Mas
existem os mais novos que se lamentam pelo fim do rock dos anos 80: Legião,
Barão, Ultraje, Miquinhos Amestrados e outros bichos. E assim por diante.
O Eclesiastes ensina que
há um tempo para todas as coisas. Mas “bom era no meu tempo!” Como, se o meu
nunca é igual ao seu? Ambos são bons? Então não era bom só no “meu tempo”... E
todos os “tempos” podem ser igualmente bons?
João Ubaldo Ribeiro, numa
entrevista, afirmou que se irrita quando vê gente da idade dele com saudade dos
anos sessentas, dizendo: “ah, no meu tempo é que era bom!...” Saudade de quê? O
país vivia numa ditadura, tudo era muito mais precário, mais difícil, mais
longe... Havia muito mais pobreza e desgraças bem piores que as de hoje. Então,
por que essa nostalgia?
A verdade é que não se tem
saudade propriamente das coisas daquele tempo, mas desse tempo em si. Salvo
quem teve uma infância ou juventude muito difícil, a gente tem saudade é da
própria mocidade, do tempo em que era criança e jovem. Temos saudade, portanto,
de nós mesmos. Só que em outro tempo.
• A Professora Maria
Tereza de Queiroz Piacentini (www.linguabrasil.com.br), a quem publicamente
agradeço, observa, com toda a razão, a respeito do meu artigo sobre o
subjuntivo, que no inglês esse modo verbal existe, sim, só que é igual ao
indicativo em quase todos os verbos. Mas em alguns poucos, como to be (ser e
estar), ele aparece: God BE with you, e não God IS with you, é Deus esteja com
você.
*Marcelo N. R. Dantas - professor (Tribuna do Norte)
Nenhum comentário:
Postar um comentário