A Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável - Rio + 20, que acontece até a
próxima sexta-feira, 22, volta a chamar a atenção sobre a necessidade de adotar
posturas que unam economia à preservação do meio ambiente.
Apesar dos avanços em
pesquisas, por parte das nações desenvolvidas, para o Rio + 20, a perspectiva é
de que os países subdesenvolvidos apresentem mais propostas relacionadas ao
tema, segundo a opinião do consultor de Agricultura Orgânica e Dinâmica Roberto
Brígido, que também presta consultoria ao Serviço Brasileiro de Apoio às
Pequenas e Médias Empresas (SEBRAE).
Ele, que também é
professor aposentado da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA),
comenta que a questão da emissão de gases para o meio ambiente e os aumentos de
temperatura que essa emissão deve causar vem sendo bastante debatida.
Segundo o consultor,
existe um trabalho que deve ser desenvolvido a fim de que o aumento da
temperatura até o ano de 2050 não ultrapasse os dois graus. Caso esse aumento
supere o limite estipulado, haverá desequilíbrio generalizado.
Para que isto
aconteça, é preciso preservar nossas matas e vegetação e partir para um nível
de manejo na agricultura que respeite a natureza, técnicas que podem ser
encontradas na agroecologia.
Uma delas é a
agricultura orgânica. Roberto Brígido explica que as vantagens da agricultura
orgânica beneficiam, primeiramente, os produtores, pois quando eles manejam
organicamente não fazem uso de adubo sintético e nem de veneno, sem falar que
movimentam pouco o meio ambiente. "Os danos são mínimos em relação à
questão", argumenta.
O segundo grupo
contemplado é o de consumidores. "São bem mais saudáveis", informa
Roberto Brígido, acrescentando que os alimentos possuem mais nutrientes, não
fazem mal à saúde e, quando levada em consideração a questão do custo
benefício, ainda são mais econômicos do que os demais produtos.
Por fim, o meio
ambiente também é beneficiado. Isso porque, segundo o consultor, este tipo de
agricultura não se desenvolve à custa do desmatamento e movimenta pouco o solo,
porque mantém a cobertura verde, o que diminui a emissão de gases. "Você
trabalha como se você fosse imitar a natureza", explica.
Outro grande
benefício para o meio ambiente e para os produtores é a economia de água. Como
a agricultura orgânica mantém a terra sempre coberta, a água evapora menos,
reduzindo a necessidade de consumo. O consultor diz que o trabalho não consiste
em um meio de combate à seca, mas permite que, com uma menor quantidade de
água, posa haver melhor aproveitamento.
Mais do que uma
alternativa, a agricultura orgânica é uma necessidade, segundo comenta o
próprio consultor: "A necessidade é de uma das coisas mais importantes
hoje em dia para a humanidade, que é a alimentação saudável". Ele lembra
que a maior parte das doenças que acometem as pessoas na atualidade está
relacionada à alimentação, seja pela quantidade ou pela qualidade inadequada.
Para ele, se todas as pessoas tivessem a oportunidade de ingerir apenas
alimentos orgânicos, as doenças diminuiriam consideravelmente. "Quando
você trabalha com agricultura orgânica, você está colocando na mesa das pessoas
um produto de qualidade", reforça.
A agricultura
orgânica, no entanto, ainda é uma prática predominante apenas entre os pequenos
produtores. "Os pequenos produtores detêm em torno de 70% a 80% da
agricultura orgânica no Brasil", informa Roberto Brígido.
Porém, ele acrescenta
que isso não significa que os grandes produtores não trabalhem organicamente e
dá uma boa notícia. No Brasil, já existem grandes produtores que adotam a
prática, alguns deles localizados na própria região Nordeste. A maior parte
desta produção é destinada à exportação.
A adesão por parte
desse grupo ocorre porque a prática também possibilita uma produção em longa
escala, sem que haja prejuízos. "É possível sim", enfatiza o
consultor.
DO CONVENCIONAL AO
ORGÂNICO - A transição da produção convencional para a agricultura orgânica
obedece a normas que variam de acordo com a legislação de cada país. Roberto
Brígido explica que é necessário um período de transição, chamado de tempo de
conversão, período necessário para que a terra se desintoxique, se livrando das
práticas atuais. No Brasil, este tempo é de, em média, um ano e meio. Mas
enquanto isso, os produtores podem dar continuidade aos seus trabalhos na
agricultura, o que impede que sofram prejuízos econômicos.
De acordo com o
consultor, eles continuam produzindo no mesmo local, sendo que passam a
manusear o solo organicamente. Os produtos podem ser comercializados
normalmente e o tempo que cada cultura leva para se desenvolver não é alterado
com a mudança do método, mas eles só ganham o selo e a certificação de produto
orgânico quando os critérios estabelecidos por lei forem alcançados. Isso
porque, atualmente, para poder ser comercializado como produto orgânico o
produto tem que possuir o selo do Ministério da Agricultura.
Em Mossoró, os
produtos vendidos pela Associação dos Produtores e Produtoras da Feira
Agroecológica de Mossoró (APROFAM) possuem a certificação. Eles são vendidos
aos sábados, na lateral do Museu.
*Jornal Gazeta do Oeste