Viúvo da militante de
esquerda Anatália de Melo Alves, Luis Alves Neto, ex-preso político do PCBR,
diz que acredita no trabalho da Comissão da Verdade, instalada pelo Governo
Federal, como um meio para apurar violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988,
período que inclui a ditadura militar (1964-1988). A morte de Anatália - que
nasceu em Martins e morou em Mossoró, foi detalhada em ampla reportagem do
jornal Correio do Brasil, com dados importantes sobre a morte da militante.
Luis Alves acredita
que uma das histórias que devem ser esclarecidas pela Comissão da Verdade é a
da sua mulher, Anatália.
Presa junto com o
esposo companheiro de militância no PCBR, em 13 de dezembro de 1972, Anatália
foi morta no dia 15 de janeiro 1973.
Apesar de todas as
evidências de assassinato, como as marcas de esganadura, os militares
divulgaram que a militante teria cometido suicídio. “Não havia sentido, já
havíamos passado por todas as fases de tortura. Na época, quando os militares
prepararam a cena do suicídio, para divulgar para a imprensa, eu denunciei ao
vivo através de vários veículos de comunicação. Seria leviano se afirmasse que
ela foi assassinada, apesar das fortes suspeitas”, comenta.
Além dos sinais de
esganadura, o corpo de Anatália trazia marcas de queimaduras nas partes
pubianas que, segundo a matéria, eram uma tentativa grotesca de apagar os
vestígios de estupro, uma das formas de tortura sofrida pelas mulheres. No
entanto, Luis Alves não descarta a possibilidade de Anatália ter sido vítima de
um ritual praticado por militares, de queimar o corpo de militantes mortos.
“Era uma forma de represália, para vingar a morte de militares que foram
queimados dentro de uma viatura, em um confronto com militantes do PCBR”,
relata.
Para Luis Alves,
assim como a Comissão da Verdade toda forma de divulgar fatos daquela época tem
grande importância histórica. “Com a construção da memória histórica, você pode
definir os rumos mais objetivamente das forças de esquerda, forças
democráticas, dessas forças que querem reconstruir um regime mais democrático
de liberdade plena”, frisa.
Filme e biografia
contarão história de Anatália
A história da
potiguar, Anatália de Melo Alves, que nasceu no município de Martins, região
serrana do estado, e foi presa em Recife por integrar o movimento comunista que
atuava contra a ditadura militar, será contada em biografia e em um filme.
O filme intitulado
“Anatália Alves – Filha deste solo” tem roteiro e direção de Teotônio Roque e
produção de Andrea Gurgel e Glácio Menezes. De acordo com a sinopse do filme, a
produção trás depoimentos dos que conviveram com ela, enfatizando o seu lado
romântico e sonhador, o qual conquistou a admiração e o amor de Luis Alves.
Em conversa com o
Jornal DE FATO, o seu companheiro de militância, Luis Alves, conta que a equipe
responsável pelo filme também estaria produzindo sua biografia.
A reportagem do
Jornal DE FATO tentou contato com o diretor do filme e responsável pela
biografia, Teotônio Roque, mas não o encontrou e foi informado por pessoas
próximas que ele está em Portugal.
Livro traz detalhes
sobre vítimas
O livro “Memórias de
uma guerra suja”, dos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, que traz
relatos do ex-delegado Cláudio Guerra, do Departamento de Ordem Política e
Social (DOPS), sobre a época da ditadura militar, traz revelações sobre a morte
de algumas de suas vítimas. Entre elas, o professor e advogado potiguar, Luiz
Ignácio Maranhão (1921-1974), um dos dez presos políticos, vítimas de Cláudio
Guerra que tiveram os corpos incinerados por ele em usina de açúcar do norte do
Estado do Rio de Janeiro. Devido à grandeza dos detalhes, o depoimento do
delegado poderá ser usado como um dos documentos utilizados pela Comissão da
Verdade.
*Jornal De Fato
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