Costuma-se dizer que a
diferença entre o remédio e o veneno está na dose. Com a propriedade de um
farmacêutico-bioquímico digo mais, não bastas apenas saber a dose certa, para
curar é preciso usar o remédio adequado a cada situação, caso contrário em vez
de solucionar, apenas potencializará a enfermidade.
Fazendo
uma analogia à problemática envolvendo os taxistas intermunicipais, percebemos
uma ação quase que suicida para a cidade polo do Oeste Potiguar. A Prefeitura
Municipal de Mossoró (PMM) acerta em buscar resolver a questão da mobilidade
urbana da cidade, porém peca em querer solucionar um problema de décadas com
apenas uma canetada.
A
restrição da circulação, embarque e desembarque de passageiros por taxistas
intermunicipais, por si só não vai resolver o problema da falta de mobilidade
urbana. Pelo contrário, a falta de um diagnóstico preciso sobre como lidar com
a problemática está causando efeitos colaterais seríssimos no comércio.
Calculam-se perdas de até 60% nas vendas em alguns setores.
O
comércio, que desde o início do ano amarga significativas quedas nas vendas por
causa da crise econômica, sofre mais este impacto negativo causado pela decisão
da Prefeitura de Mossoró de restringir a circulação dos taxistas
intermunicipais. A medida afastou boa parte das 15 mil pessoas de outras
cidades que vinham a Mossoró diariamente e que representavam uma movimentação
de aproximadamente R$ 10 milhões na economia local. Na ânsia de mostrar
serviço, a prefeitura está prestando um grande desserviço aos comerciantes.
Nem
precisa se apegar tanto aos números para perceber a redução da população
flutuante no município. Basta andar nas ruas para perceber o quanto estão
vazias. Vazias, não organizadas. Há uma diferença gritante entre as duas
terminologias. Na dúvida, aqueles que fazem a Prefeitura de Mossoró podem
perguntar aos comerciantes. Eles sabem bem diferenciá-las.
O
diagnóstico do problema da mobilidade urbana feito pela Prefeitura de Mossoró é
correto: é preciso oferecer condições para ter um transporte público de
qualidade. Para isso, porém, não se pode exterminar todas as demais
alternativas de transporte, prejudicando milhares de pais de família, para
criar a todo custo um público para os ônibus.
O
tratamento mais adequado para o problema da mobilidade urbana se chama
planejamento. Antes de proibir e restringir a circulação de táxis
intermunicipais, táxis lotação e mototáxi, a Prefeitura precisava dotar a
cidade de um transporte público, com rotas que atendam a necessidade dos
usuários, construir paradas de ônibus de qualidade, melhorar a malha viária por
onde passa os veículos, regulamentar as categorias citadas e discutir as
alternativas juntamente com os cidadãos, que são principais interessados no
processo.
Todos
esses itens devem ser aplicados de forma bem pensada e planejada. É um processo
que deve demorar algum tempo até todo o esquema de trânsito se encaixar
perfeitamente e funcionar em harmonia. É claro que no meio do caminho dessa
mudança pode existir algum transtorno para os envolvidos, mas nada que se
compare aos efeitos desastrosos que atual medida da prefeitura estão causando.
O problema é antigo e precisa de remédios enérgicos para saná-lo. Mas é preciso
cautela. Uma dose de bom-senso nunca fez mal a ninguém.
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