terça-feira, 8 de setembro de 2015

Opinião - Uma dose de bom senso

Costuma-se dizer que a diferença entre o remédio e o veneno está na dose. Com a propriedade de um farmacêutico-bioquímico digo mais, não bastas apenas saber a dose certa, para curar é preciso usar o remédio adequado a cada situação, caso contrário em vez de solucionar, apenas potencializará a enfermidade.

Fazendo uma analogia à problemática envolvendo os taxistas intermunicipais, percebemos uma ação quase que suicida para a cidade polo do Oeste Potiguar. A Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM) acerta em buscar resolver a questão da mobilidade urbana da cidade, porém peca em querer solucionar um problema de décadas com apenas uma canetada.

A restrição da circulação, embarque e desembarque de passageiros por taxistas intermunicipais, por si só não vai resolver o problema da falta de mobilidade urbana. Pelo contrário, a falta de um diagnóstico preciso sobre como lidar com a problemática está causando efeitos colaterais seríssimos no comércio. Calculam-se perdas de até 60% nas vendas em alguns setores.

O comércio, que desde o início do ano amarga significativas quedas nas vendas por causa da crise econômica, sofre mais este impacto negativo causado pela decisão da Prefeitura de Mossoró de restringir a circulação dos taxistas intermunicipais. A medida afastou boa parte das 15 mil pessoas de outras cidades que vinham a Mossoró diariamente e que representavam uma movimentação de aproximadamente R$ 10 milhões na economia local. Na ânsia de mostrar serviço, a prefeitura está prestando um grande desserviço aos comerciantes.

Nem precisa se apegar tanto aos números para perceber a redução da população flutuante no município. Basta andar nas ruas para perceber o quanto estão vazias. Vazias, não organizadas. Há uma diferença gritante entre as duas terminologias. Na dúvida, aqueles que fazem a Prefeitura de Mossoró podem perguntar aos comerciantes. Eles sabem bem diferenciá-las.

O diagnóstico do problema da mobilidade urbana feito pela Prefeitura de Mossoró é correto: é preciso oferecer condições para ter um transporte público de qualidade. Para isso, porém, não se pode exterminar todas as demais alternativas de transporte, prejudicando milhares de pais de família, para criar a todo custo um público para os ônibus.

O tratamento mais adequado para o problema da mobilidade urbana se chama planejamento. Antes de proibir e restringir a circulação de táxis intermunicipais, táxis lotação e mototáxi, a Prefeitura precisava dotar a cidade de um transporte público, com rotas que atendam a necessidade dos usuários, construir paradas de ônibus de qualidade, melhorar a malha viária por onde passa os veículos, regulamentar as categorias citadas e discutir as alternativas juntamente com os cidadãos, que são principais interessados no processo.

Todos esses itens devem ser aplicados de forma bem pensada e planejada. É um processo que deve demorar algum tempo até todo o esquema de trânsito se encaixar perfeitamente e funcionar em harmonia. É claro que no meio do caminho dessa mudança pode existir algum transtorno para os envolvidos, mas nada que se compare aos efeitos desastrosos que atual medida da prefeitura estão causando. O problema é antigo e precisa de remédios enérgicos para saná-lo. Mas é preciso cautela. Uma dose de bom-senso nunca fez mal a ninguém.


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