Por Paulo Afonso Linhares
O mais genial e ácido dos jornalistas norte-americanos, H. L.
Mencken, em trecho de artigo escrito há mais de oitenta anos e posteriormente
publicado no seu intrigante “O Livro dos Insultos”, afirma que “todo o
jornalismo sadio nos Estados Unidos (sadio no sentido de que floresce
espontaneamente, sem precisar de auxílio externo) baseia-se firmemente em
inventar e destruir papões. Assim como a política. E assim como a religião. O
que reside sobre esta impostura fundamental é uma artificialidade, um brinquedo
de homens com mais esperanças do que bom senso. O jornalismo inteligente e
honesto, assim como a política inteligente e honesta, e até mesmo a religião
inteligente e honesta — são coisas que não têm lugar numa sociedade democrática.”
Sem tirar nem pôr uma vírgula que seja desta dura, mas, realista, assertiva, é inegável
sua atualidade no Brasil atual, sobretudo, diante de uma falsa ética e fingida
neutralidade política dos veículos de comunicação de modalidades diversas,
fazendo cada um deles “dez vezes mais sinuoso, hipócrita, velhaco, enganador,
farisaico, tartufista, fraudulento, safado, escorregadio, inescrupuloso, pérfido,
indigno e desonesto”, para usar palavras do mesmo Mencken na obra citada.
Essas péssimas qualidades do jornalismo
brasileiro se evidenciam mais nas temporadas em que ocorrem eleições, porquanto
os grandes veículos de comunicação, sejam os tradicionais jornalões do sudeste
brasileiro, sejam as redes de televisão, suposta e fingidamente vestidos com
mantos de neutralidade jornalística, na busca devotada “à verdade, a toda a
verdade e nada mais que a verdade,” tomando emprestado outra frase de Mencken. Tudo hipocrisia com auxílio da própria legislação que rege a
propaganda eleitoral no Brasil, que cria um artificioso ambiente igualitário
para candidatos e partidos que participam das campanhas eleitorais.
Embora a neutralidade (verdadeira) dos veículos
de comunicação seja preferível, ao menos neste aspecto a imprensa norte-americana
está vários passos adiante da nossa: já se tornou um costume a adesão pública
de grandes conglomerados midiáticos às candidaturas em jogo nas eleições
presidenciais, posturas essas orientadas pela postura ideológica de cada veículo,
i.e., um jornal marcadamente republicano
acosta-se em regras ao candidato do Partido Republicana, e o democrata idem,
contudo, sem perder a postura crítica, profissional e imparcial essenciais à prática
do bom jornalismo. Assim, a circunstância de assumir um
das candidaturas presidenciais não será impeditivo às publicações de fatos,
opiniões ou pesquisas de opinião desfavoráveis à candidatura presidencial
assumida pelo veículo de comunicação.
Em estágio bem inferior estão as empresas midiáticas
brasileiras, dos pequenos jornalecos e emissoras de rádio e televisão
implantados nos grotões deste país continental às poderosas estruturas
empresariais de comunicação do eixo Rio-São Paulo, que se encastelam em
rigorosa (e não menos falsa!) neutralidade política, embora demonstrem na prática
enorme facciosidade e práticas jornalísticas deploráveis, como a de formular
graves acusações a personalidades da política, do mundo empresarial e artístico
sem qualquer elemento probatório minimamente confiável. É nesse diapasão que segue a Veja, revista semanal da Editora Abril,
os jornais Folha e o Estado de São Paulo, o jornal "O Globo", além
das diversas networks televisivas, em especial a Rede Globo de Televisão.
Claro, embora encham as burras com dinheiro da
propaganda de órgãos públicos federais e empresas controladas (Petrobras, Banco
do Brasil, Caixa Econômica Federal etc), sistematicamente esculhabam com o
"governo do PT", raivosamente e sem trégua possível. Agem, aliás, como se formassem uma agremiação política - profundamente
atrasada e conservadora ao extremo - cujos filiados seriam veículos de comunicação
e não apenas pessoas, cujos objetivos seriam defender seus interesses
corporativos e a hegemonia da mesma elite política que há pouco mais de
quinhentos anos desembarcou das caravelas portuguesas no lugar chamado de Porto
Seguro, na Bahia, e que, desde então se mantém no controle do Estado, da
sociedade e das riquezas da nação com imposição de um silencioso apartheid
social que mantém mais de sessenta por cento da população brasileira abaixo da
linha de pobreza.
Emblemática tem sido a (facciosa) postura da
Rede Globo de Televisão que, diante da inerme candidatura de Aécio Neves,
resolveu apostar todas as suas fichas em Marina Silva, a Batiguel do Seringal,
para impedir a reeleição de Dilma Rousseff. Exemplo
disto foram as entrevistas feitas com estes "principais candidatos",
no programa Bom Dia Brasil: após expor ritual de suposta imparcialidade,
sobretudo com a marcação de tempos iguais (30 minutos para cada candidato) e
sorteio na ordem de apresentação, os entrevistadores (Chico Pinheiro, Ana Paula
Araújo e Miriam Leitão) desceram a chibata em Dilma - que foi seguidamente
interrompida e quase impedida de responder a avalanche de perguntas e
questionamentos -, castigaram Aécio só um pouquinho, para disfarçar, e
levantaram a bola vergonhosamente para Marina Silva. Uma lastimável demonstração de parcialidade e mau jornalismo que em nada
ajudam no aperfeiçoamento da democracia e das instituições políticas nacionais.
Por essas matérias, jamais a velha Globo receberá mais um Emmy Internacional, o
prêmio máximo da TV mundial. Esperamos.
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