domingo, 7 de setembro de 2014

Caos na obstetrícia viola dignidade de gestantes de Mossoró e região



Com população de mais de 280 mil habitantes, a segunda maior cidade do Rio Grande do Norte vivencia um drama que fere a dignidade das gestantes. Mossoró possui apenas um hospital que faz realização de partos de pacientes da cidade e de outros 62 municípios da região Oeste através do Sistema Único de Saúde (SUS), o Hospital da Mulher Parteira Maria Correia.

Espera, medo e angústia afligem as gestantes que tentam ter bebês no município. A superlotação completa o cenário desumano da única unidade em funcionamento na cidade para realização de partos pelo SUS. No Hospital da Mulher, as filas se dividem em dois sentidos. Um formado pelas gestantes que aguardam, muitas vezes precariamente, atendimento e outro por aquelas que depois de enfrentar os desafios impostos pela superlotação e terem os seus bebês, aguardam transferência para o Hospital da Polícia Militar.

A situação existe desde o fechamento da Casa de Saúde Dix-sept Rosado, unidade com a maior quantidade de leitos para atendimento às gestantes da região através do SUS. A Casa de Saúde chegava a fazer em média 600 partos por mês. O fechamento desta unidade reflete na superlotação do Hospital da Mulher.

E se a situação provoca a superlotação da estrutura, os profissionais do Hospital da Mulher também ficam sobrecarregados. Na última sexta-feira, 5, dois obstetras de plantão no Hospital se revezavam entre os procedimentos na sala de cirurgia e o atendimento às gestantes na espera.“Dois obstetras quando deveria haver quatro”, desabafa um dos profissionais.

DESUMANIZAÇÃO

Aos nove meses e sete dias de gestação, Maria Jéssica Rebouças, que está à espera de Vitória, procurou o Hospital da Mulher por causa de um sangramento. Ela chegou pouco após às 13h, e às 17h, a jovem ainda não tinha recebido atendimento. Casos como o de Jéssica acontecem diariamente e ainda há relatos de situações mais graves.

Segundo a enfermeira Norma Sena, na quinta-feira uma mulher teve bebê na sala de acolhimento porque não havia vaga na sala de parto. Além disso, a profissional diz que falta material.

Na semana passada, um bebê chegou a morrer na barriga da mãe devido à falta de atendimento no Hospital da Mulher. “A gestante chegou ao Hospital da Mulher, mas não pôde ser atendida, pois não havia vagas. Então o médico que estava de plantão pediu que ela retornasse no dia seguinte. Quando ela retornou, o bebê já estava morto", lamenta o obstetra Manuel Nobre.

TRANSFERÊNCIA HOSPITALAR

Para as mães que já passaram pelo caos inicial e conseguiram ter seus bebês, é hora de seguir para o Hospital da Polícia Militar, já que não há leitos suficientes para o pós-parto no Hospital da Mulher.

Já Naele da Silva foi internada no Hospital da Mulher 15 dias atrás, pois estava com a pressão arterial elevada, mas o pequeno Moisés só nasceu na quinta-feira, 4, às 14h40. Prematuro, nascido aos oito meses, ele nem tem noção da situação, mas a mãe sabe bem a realidade e ontem, 5, ainda teve que ser transferida para outra unidade hospitalar pela falta de leitos. “É muito ruim, porque a gente fica se deslocando com dor”, conta.

PRAZO

Com a situação de superlotação do Hospital da Mulher, o Secretário Estadual de Saúde, Luiz Roberto Fonseca, deu um prazo ao município de Mossoró para que resolva a situação da obstetrícia de baixo e médio risco na cidade até a próxima terça-feira, 9, já que o Hospital da Mulher é destinado à realização de partos de alto risco.

Luiz Roberto Fonseca informa que, a partir da quarta-feira, o Hospital da Mulher fará um acolhimento com classificação de risco, de forma muito rigorosa, e será dada prioridade à entrada de pacientes de alto risco. "Já no caso das pacientes de baixo risco, o Hospital não terá condições de dar essa assistência, e o município terá que procurar alternativas para garantir assistência a essas pacientes", revela.

A medida, segundo ele, tem o intuito de possibilitar que o Hospital da Mulher possa voltar à sua condição normal, ofertar uma saúde digna à população e acolher de forma adequada a mãe e o recém-nascido portadores de patologias de alto risco. "Nós não vamos aceitar vir ao Hospital da Mulher e encontrar aqui duas pacientes em uma mesma cama, duas crianças dividindo o mesmo berço, isso nós não vamos aceitar em hipótese alguma”, destaca. 

O diretor de comunicação da Secretaria de Comunicação da Prefeitura, José de Paiva Lopes, diz que o município foi pego de surpresa com a decisão do secretário estadual de Saúde, pois existe uma parceria entre Município e Estado com relação ao Hospital da Polícia. “Nós vamos achar uma solução para a obstetrícia no prazo”, afirma. Porém, ele diz que só dará mais informações sobre o assunto quando o município tiver uma solução.

*Com informações Jornal Gazeta do Oeste – Luciana Araújo
**Fotos: Jornal Gazeta do Oeste


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