Com população de mais de 280 mil habitantes, a segunda maior cidade do Rio
Grande do Norte vivencia um drama que fere a dignidade das gestantes. Mossoró
possui apenas um hospital que faz realização de partos de pacientes da cidade e
de outros 62 municípios da região Oeste através do Sistema Único de Saúde (SUS),
o Hospital da Mulher Parteira Maria Correia.
Espera, medo e angústia afligem as gestantes que
tentam ter bebês no município. A superlotação completa o cenário desumano da única
unidade em funcionamento na cidade para realização de partos pelo SUS. No
Hospital da Mulher, as filas se dividem em dois sentidos. Um formado pelas
gestantes que aguardam, muitas vezes precariamente, atendimento e outro por
aquelas que depois de enfrentar os desafios impostos pela superlotação e terem
os seus bebês, aguardam transferência para o Hospital da Polícia Militar.
A situação existe desde o fechamento da Casa de
Saúde Dix-sept Rosado, unidade com a maior quantidade de leitos para
atendimento às gestantes da região através do SUS. A Casa de Saúde chegava a
fazer em média 600 partos por mês. O fechamento desta unidade reflete na
superlotação do Hospital da Mulher.
E se a situação provoca a superlotação da estrutura, os profissionais do
Hospital da Mulher também ficam sobrecarregados. Na última sexta-feira, 5,
dois obstetras de plantão no Hospital se revezavam entre os procedimentos na
sala de cirurgia e o atendimento às gestantes na espera.“Dois obstetras quando
deveria haver quatro”, desabafa um dos profissionais.
DESUMANIZAÇÃO
Aos
nove meses e sete dias de gestação, Maria Jéssica Rebouças, que está à espera
de Vitória, procurou o Hospital da Mulher por causa de um sangramento. Ela
chegou pouco após às 13h, e às 17h, a jovem ainda não tinha recebido
atendimento. Casos como o de Jéssica acontecem diariamente e ainda há relatos
de situações mais graves.
Segundo
a enfermeira Norma Sena, na quinta-feira uma mulher teve bebê na sala de
acolhimento porque não havia vaga na sala de parto. Além disso, a profissional
diz que falta material.
Na
semana passada, um bebê chegou a morrer na barriga da mãe devido à falta de atendimento
no Hospital da Mulher. “A gestante chegou ao
Hospital da Mulher, mas não pôde ser atendida, pois não havia vagas. Então o médico que estava de plantão
pediu que ela retornasse no dia seguinte. Quando ela retornou, o bebê já estava
morto", lamenta o obstetra Manuel Nobre.
TRANSFERÊNCIA HOSPITALAR
Para
as mães que já passaram pelo caos inicial e conseguiram ter seus bebês, é hora
de seguir para o Hospital da Polícia Militar, já que não há leitos suficientes
para o pós-parto no Hospital da Mulher.
Já
Naele da Silva foi internada no Hospital da Mulher 15 dias atrás, pois estava
com a pressão arterial elevada, mas o pequeno Moisés só nasceu na quinta-feira,
4, às 14h40. Prematuro, nascido aos oito meses, ele nem tem noção da situação,
mas a mãe sabe bem a realidade e ontem, 5, ainda teve que ser transferida para
outra unidade hospitalar pela falta de leitos. “É muito ruim, porque a gente
fica se deslocando com dor”, conta.
PRAZO
Com
a situação de superlotação do Hospital da Mulher, o Secretário Estadual de
Saúde, Luiz Roberto Fonseca, deu um prazo ao município de Mossoró para que
resolva a situação da obstetrícia de baixo e médio risco na cidade até a
próxima terça-feira, 9, já que o Hospital da Mulher é destinado à realização de
partos de alto risco.
Luiz Roberto Fonseca informa que, a partir da quarta-feira, o
Hospital da Mulher fará um
acolhimento com classificação de risco, de forma muito rigorosa, e será dada
prioridade à entrada de pacientes de alto risco. "Já no caso das pacientes
de baixo risco, o Hospital não terá condições de dar essa assistência, e o
município terá que procurar alternativas para garantir assistência a essas
pacientes", revela.
A medida, segundo ele, tem o intuito de possibilitar que o
Hospital da Mulher possa voltar à sua condição normal, ofertar uma saúde digna
à população e acolher de forma adequada a mãe e o recém-nascido portadores de
patologias de alto risco. "Nós
não vamos aceitar vir ao Hospital da Mulher e encontrar aqui duas pacientes em
uma mesma cama, duas crianças dividindo o mesmo berço, isso nós não vamos
aceitar em hipótese alguma”, destaca.
O
diretor de comunicação da Secretaria de Comunicação da Prefeitura, José de
Paiva Lopes, diz que o município foi pego de surpresa com a decisão do
secretário estadual de Saúde, pois existe uma parceria entre Município e Estado
com relação ao Hospital da Polícia. “Nós vamos achar uma solução para a
obstetrícia no prazo”, afirma. Porém, ele diz que só dará mais informações
sobre o assunto quando o município tiver uma solução.
*Com
informações Jornal Gazeta do Oeste – Luciana Araújo
**Fotos: Jornal Gazeta do Oeste
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