terça-feira, 31 de maio de 2016

Habilitação para 'cinquentinha' entra em vigor nesta quarta-feira



A exigência por habilitação para conduzir as motos conhecidas como "cinquentinhas"  começa a valer nesta quarta-feira (1º) em todo o Brasil. Quem descumprir cometerá infração gravíssima, com multa de R$ 574,62 (o valor é multiplicado por 3) e apreensão do veículo.

Para guiar "cinquentinha" será preciso ter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) na categoria A, para motos, ou a chamada ACC (Autorização para Conduzir Ciclomotores), um documento pouco conhecido do público e que tem baixíssima procura.

Segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), até o fim de fevereiro, havia apenas 678 ACCs emitidas no país contra mais de 25 milhões de CNHs na categoria A. O Nordeste concentra os emplacamentos das "cinquentinhas".

Por outro lado, tirar a ACC é mais rápido, porque são exigidas menos horas-aula.

Proposições apresentadas em 31 de maio

- Indico a recuperação da pavimentação da rua Anatália de Melo Alves com a rua Afonso Pena, Paredões.

- Solicita a limpeza da rua Augusto da Escóssia, Paredões.

- Pede a reposição da lâmpada apagada da iluminação pública na rua Dom Pedro II, Paredões.

- Solicita a limpeza da rua Alexandre Baraúna, Paredões.


- Pede a recuperação da pavimentação da rua Marechal Floriano, Paredões.

Comerciantes reclamam da instalação de barracas na Praça da Convivência

Comerciantes da Praça de Convivência de Mossoró reclamam da instalação de barracas em frente aos seus estabelecimentos comerciais para o Pingo da Mei Dia, evento que marca a abertura da programação do Mossoró Cidade Junina. A regulamentação da utilização de espaços públicos para fins comerciais e/ou de lazer durante o evento foi feita pela Prefeitura Municipal de Mossoró por meio do decreto Nº 4.640, de 16 de maio de 2016.

A situação está incomodando os comerciantes que mantém estabelecimentos na Praça da Convivência. “Conversamos com alguns proprietários que estão apreensivos, pois com as barracas instaladas em frente a seus estabelecimentos, boa parte da população vai deixar de consumir na Praça para consumir nas barracas”, relata. Além disso, as barracas e tendas montadas na praça diminuem o espaço disponível para a circulação de clientes.

“Os comerciantes pedem que haja uma área delimitada para a montagem das barracas. Muitos destes proprietários veem no Pingo da Mei Dia uma oportunidade para aumentar suas vendas. No entanto, com a instalação de barracas em frente a seus estabelecimentos, há um grande risco de terem prejuízos no dia”, observa o vereador Genivan Vale.

O parlamentar levará o assunto à Câmara Municipal de Mossoró (CMM) para pedir mais sensibilidade à Prefeitura de Mossoró quanto à regularização das tendas e barracas a serem montadas para o evento junino.

“É importante lembrar que o Pingo da Mei Dia é um evento de todos. Por isso, a liberação das barracas precisa ser feita com cautela, tanto para não prejudicar os comerciantes que mantém ponto fixo nos estabelecimentos do Corredor Cultural Professor Gonzaga Chimbinho, quanto para não atrapalhar a festa para aqueles que não irão ficar nas tendas, além de garantir a segurança dos participantes”, frisa o edil. 

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Alunos e professores de Ciência da Computação lançam o projeto Reaproveitamento do Lixo Tecnológico



Alunos e professores do curso de Ciência da Computação, Campus Central, lançam o projeto Reaproveitamento do Lixo Tecnológico (RELTEC), que busca conscientizar a comunidade acadêmica e público em geral sobre o descarte adequado do lixo tecnológico, eletroeletrônico e computacional.

Uma campanha especial será realizada de 3 a 11 de junho de 2016, com distribuição de pontos de coletas nos seguintes locais: Campus Central (Uern); Reitoria UERN; Madeireira Planalto (bairro Planalto 13 de maio); Mikrocenter; Rotary Club Mossoró; Colégio Sagrado Coração de Maria; Igreja do Menino Jesus de Praga (bairro Santa Delmira); TCM; Sesi; Colégio Ceamo; Sindicato dos Bancários Mossoró; Catedral de Santa Luzia; Vânia Diógenes Advocacia; Honda Motoeste; Microlins Mossoró.

Após o recolhimento, o material será analisado e, se possível, reaproveitado na montagem de máquinas que serão, posteriormente, doadas a instituições carentes.

Alguns dispositivos descartados – como placas de circuitos, celulares, tablets e HD’s - podem ser utilizados com fins acadêmicos em experimentos e pesquisas nos laboratórios da Uern.

Não serão aceitos aparelhos eletrodomésticos, como geladeiras, geláguas, micro-ondas, cafeteiras, liquidificadores, máquinas de lavar, entre outros itens. Desses itens serão aceitas apenas suas placas de circuitos, já devidamente livres de qualquer outra parte do equipamento.

Pilhas e baterias só serão aceitas no ponto de coleta localizado no bairro Santa Delmira, pois lá já estavam recebendo esse material. Cartuchos e tonner’s, só devem ser entregues se estiverem dentro das impressoras ou se forem entregues no ponto de coleta do Santa Delmira - Igreja do Menino Jesus de Praga.

De acordo com a Comissão Organizadora, o material que não puder ser reutilizado será encaminhado a uma empresa que compra lixo eletrônico. Os valores arrecadados com a venda serão encaminhados para financiamento da ida de alguns alunos de Ciência da Computação para o XXXVI Congresso da Sociedade Brasileira de Computação (CSBC 2016), que ocorrerá de 4 a 7 de julho em Porto Alegre/RS.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Genivan Vale pede explicações sobre a falta de profissionais nas escolas



Através de requerimento apresentado na Câmara Municipal de Mossoró (CMM), o vereador Genivan Vale (PDT) solicitou explicações da Secretária Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, Glaudionora da Silveira, sobre o motivo da redução do expediente em algumas escolas municipais. Caso a razão seja por causa da falta de profissionais, o parlamentar pede que possa ser informada a previsão de quando o problema será resolvido. 

“Recebemos informações de que a Escola Municipal Manoel Assis está liberando os alunos às 15h 30 porque não há profissionais para fazer a merenda”, relata o vereador. Ele lembra que situação semelhante foi enfrentada pela referida escola em março deste ano. “Na época, a prefeitura prometeu encaminhar profissionais para a unidade, mas não cumpriu”, lembra. 

Durante a sessão ordinária da Câmara Municipal, outros vereadores também relataram drama semelhante enfrentado por mais escolas municipais. O problema da falta de profissionais nas escolas, como merendeiras e Assistentes de Serviços Gerais (ASGs) ocorre devido à falta de pagamento da prefeitura aos trabalhadores terceirizados do município. 

“A Escola Manoel Assis é referência em ensino e hoje vê seus alunos prejudicados por causa da falta de profissionais. É preciso que sejam adotadas providências urgentes para resolver essa situação. A prefeitura precisa oferecer condições mínimas para garantir uma educação de qualidade aos cidadãos”, declara o edil.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Menos pânico, mais assistência (2ª parte)

Efeitos sobre a gravidez
Apesar dos sintomas clínicos leves, os efeitos do zika sobre o feto podem ser sentidos em qualquer fase da gestação, como apontou estudo publicado na revista New England Journal of Medicine, coordenado por Patrícia Brasil (Ini/Fiocruz) e um conjunto de pesquisadores, dentre eles José Paulo Pereira Junior. A pesquisa constatou a ocorrência de consequências graves para o feto, incluindo insuficiência placentária, problemas no crescimento, lesões no Sistema Nervoso Central e até mesmo a morte do bebê. Das 42 grávidas com diagnóstico positivo para zika e acompanhadas pelo estudo, 12 tiveram algum tipo de alteração (29%), sendo 7 delas com alguma gravidade. 

Segundo o médico, uma das principais contribuições do estudo foi ampliar o foco para além da microcefalia. “A pesquisa mostrou que existe também a possibilidade de inflamação da placenta, em que o feto é malnutrido e produz menos urina, o que é um fator de risco para a gestação”, explica. De acordo com o especialista, esses tipos de complicações podem ser beneficiadas por um tratamento em um centro de referência, diminuindo os riscos e melhorando a condição do bebê. “Essa é uma doença nova e até então não existiam os protocolos de assistência”, destaca, ao apontar que as recomendações estão sendo elaboradas para melhorar o diagnóstico e o tratamento.

Porém, José Paulo considera que é preciso ter cautela para não causar ainda mais pânico em quem está vivenciando uma gestação. Ele destaca que 71% das grávidas infectadas não tiveram qualquer alteração observada nos exames de imagem, como concluiu este primeiro estudo. Ainda assim, quando se fala em um país do tamanho do Brasil, o impacto dos números é sempre maior. “O Brasil tem 3 milhões de partos por ano. O risco de qualquer complicação [causada por fatores diversos] para uma grávida em geral é de 10%. Se esse risco aumentar em 1%, já estamos falando em 30 mil partos por ano”, analisa. Porém, ele acredita que outros estudos comparativos são necessários para entender os efeitos e os riscos da zika sobre a gestação. 

Depois de nascer
Após o nascimento da criança, os cuidados neonatais são essenciais para o desenvolvimento futuro. Na visão da neuropediatra Tânia Saad, do IFF/Fiocruz, a microcefalia transcende uma avaliação métrica da cabeça. Segundo ela, a doença tem a ver com mudanças nos parâmetros de desenvolvimento para sexo, idade e tempo de gestação. Por isso, não basta uma medida do crânio, mas é preciso oferecer um acompanhamento integral para essas crianças. “O sistema nervoso não está completo no nascimento do bebê, por isso os cuidados nas primeiras horas são tão importantes”, explicou, durante aula inaugural no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em 11/03.

Ela também considera importante lidar com a expectativa das mães de que seria possível reverter a microcefalia. “Não se trata de uma situação cirúrgica. O crânio não cresceu porque o cérebro não se desenvolveu de maneira adequada”, esclarece. A médica aponta que as sequelas variam de caso a caso — podem ocorrer desde dificuldades na fala ou locomoção até crises convulsivas frequentes, em que é necessário o uso de medicação. Segundo ela, os cuidados nos primeiros anos de vida também ajudam a estimular o processo de aprendizado. “Não se trata apenas de aprender a fazer contas, mas sim de aprender a viver, quando o bebê deixa de ser um ‘peixe’ dentro da barriga da mãe e tem que se adaptar ao seu novo ambiente de vida”. Orientações aos profissionais de saúde sobre a estimulação precoce dessas crianças podem ser buscadas nas diretrizes lançadas pelo Ministério da Saúde em janeiro.

Não vivemos uma epidemia de microcefalia, mas de zika congênita — defende o infectologista Rivaldo Venâncio da Cunha, diretor da Fiocruz Mato Grosso do Sul. “A microcefalia é uma das alterações, provavelmente a mais grave, mas não a única”, aponta. Segundo ele, do ponto de vista da estruturação da rede de atenção, se o foco se voltar apenas para a microcefalia, as alterações mais leves somente serão observadas meses ou talvez anos depois do nascimento da criança, principalmente quando ela entrar na fase escolar. Na visão do pesquisador, a epidemia atual terá uma dimensão maior do que a transmissão vertical de HIV/aids (de mãe para filho). 

Ele aponta que as soluções para esse problema de saúde pública não dependem apenas do setor da saúde, mas exigem a integração com outras políticas públicas. “O cuidado demanda integração entre saúde e assistência social”, destaca. “Quantas famílias já foram ou serão vítimas de zika congênita? Quantas crianças já têm ou ainda terão algum tipo de alteração? Quantos pais e mães necessitarão de apoio da assistência social para ter acesso à rede de serviços?”, questionou, durante debate na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), em 15/03. Segundo ele, a dificuldade de acesso é uma realidade no Nordeste, região onde se encontra a maior parte dos casos notificados de microcefalia (5.270 registros ou 79% do total). “Desde a organização do passe de ônibus até a hospedagem nos centros onde estão concentrados os serviços, tudo isso precisa ser urgentemente dimensionado”, analisa.

Na visão de Rivaldo, é pela atenção primária que passa o suporte à nova demanda de saúde pública. “A rede especializada sozinha não vai dar conta”, considera, ao apontar que as equipes de saúde da família e unidades de atenção básica são as responsáveis pela maior parte do atendimento aos casos de zika, dengue e chikungunya. “Para atender, precisa o profissional com disposição e comprometimento”, acredita. Também para Celina Boga, a rede de serviços voltada para a reabilitação e o acompanhamento de crianças especiais já trabalha atualmente com uma demanda reprimida (mais procura do que oferta), “mesmo sem a existência da zika”.

Outro problema para organizar a rede de atenção é a pouca oferta de equipes multiprofissionais, sobretudo na área ambulatorial, ressalta Venâncio. Faltam especialidades não médicas, seja no setor público ou privado, sentencia. “Apesar de todos os avanços nos últimos anos, ainda temos um sistema de saúde focado basicamente em duas categorias profissionais: médicos e enfermeiros — diga-se de passagem, fundamentais, mas a assistência não se faz somente com as duas”, avalia. Também Guilherme Ribeiro considera que a rede de cuidados não envolve apenas a área de neurologia, mas equipes multidisciplinares, capazes de dar assistência a essas crianças e suporte social para as mães.

“Essas crianças precisam ser acompanhadas em seu desenvolvimento cognitivo e neuropsicomotor”, aponta Guilherme. O médico lembra que viver com a microcefalia ou outras alterações congênitas impacta na rotina das famílias, sendo que a maior parte delas são de baixa renda. “Às vezes é preciso mudar de cidade para dar atenção às necessidades da criança, por falta de serviço no interior”, comenta. Por isso ele considera que o apoio do ponto de vista social e humano é essencial. “A zika congênita terá uma repercussão grande para a sociedade de uma forma em geral, que precisa instalar uma rede de assistência para garantir o cuidado dessas crianças”, considera. Segundo ele, a questão também impacta sobre as emoções e as relações das famílias, diante de relatos de pais que romperam o relacionamento porque não queriam vivenciar a situação ou mesmo de crianças abandonadas em hospitais.

Por toda a vida
Em um gesto de carinho, Leonardo segura nas mãos de sua companheira Shayna. Os dois estão na reta final de uma gravidez que trouxe preocupações e amadurecimento, com a descoberta de alterações no bebê provocadas pelo vírus zika. A jovem de 20 anos conta que teve a doença no início da gestação, mas o médico que a atendeu pela primeira vez disse que poderia ser dengue. Na época a nova doença e as alterações que ela poderia causar em bebês ainda eram pouco comentadas. Porém, foi em um exame rotineiro de ultrassonografia que Shayna recebeu a notícia de que algo não ia bem.

Os pais já escolheram o nome da criança, um menino, que se chamará Arthur. Desde janeiro, eles fazem o acompanhamento no IFF. O pai, de 23 anos, deixa o trabalho de feirante para acompanhar a consulta. Para a gestante, o apoio do companheiro é um alento: “Ele está sempre ao meu lado, tenho nele um amigo, um pai, uma mãe”, diz. Leonardo afirma que está fazendo apenas o seu papel, com amor. Para a hora do parto, ambos falam de um sentimento de ansiedade, mas também dizem confiar que tudo dará certo.

Os relatos de Adriana, Tatiane e Shayna mostram que por trás dos números da doença existem histórias de vida, expectativas, esperanças, afetos. A atenção a essas particularidades não pode ser negligenciada pelo sistema de saúde, apontam os especialistas ouvidos por Radis. “Como as complicações envolvem gestantes e recém-nascidos, o impacto emocional é muito grande”, avalia Guilherme Ribeiro. Ele compara o momento atual com duas situações de saúde pública vivenciadas no Brasil — as epidemias de poliomielite e de HIV/aids — e afirma que o enfrentamento desses dois contextos ajudou a estruturar a rede de cuidados e assistência no Brasil. De acordo com José Paulo, a melhor maneira de evitar os riscos para as gestantes é a prevenção contra o mosquito e realizar um bom pré-natal. “É durante o acompanhamento da gestação que ela vai ter as informações necessárias e adequá-las a seu estilo de vida”, pontua.

“Há uma carência gigantesca de profissionais e de informação, por isso a educação permanente em saúde é fundamental para montar a rede de atenção”, avalia Rivaldo Venâncio. Já Celina Boga aponta que as pesquisas científicas para descobrir os impactos do vírus são cada vez mais necessárias, mas devem estar voltadas para melhorar as condições de vida dos doentes. “Não podemos reduzir a discussão do zika somente aos aspectos científicos. Precisamos falar também sobre a oferta de diagnóstico rápido e de serviços adequados para a população”, conclui.


Autor:  Luiz Felipe Stevanim
Revista Radis

Menos pânico, mais assistência

É para o fim de maio, mês das mães, que Adriana espera o nascimento de Maria Eduarda. Essa não é a primeira vez que ela vive as expectativas de uma gestação: o bebê é aguardado por dois irmãos, um de 11, outro de 16. A “mamãe veterana” estaria tranquila se não fosse um episódio ocorrido por volta da 15ª semana da gravidez. Apareceram algumas manchas vermelhas na pele, junto com febre e ardência nos olhos — sinais que duraram menos de uma semana. A suspeita da nova doença que todos comentavam, por causa da possível associação com casos de malformações em bebês, foi confirmada pelo diagnóstico na Fiocruz: ela havia tido zika.

O desespero e o medo sentidos no primeiro momento deram lugar à esperança e à força de vontade, principalmente pelo apoio recebido da família e dos profissionais de saúde. “Não é que você vai rejeitar um filho por ele ter uma condição diferente, mas não dá para fugir da preocupação: como vamos fazer para cuidar dele? Onde ele vai ser tratado? Quais dificuldades ele vai enfrentar?”, reflete a gestante. Na sala de espera para a ultrassonografia, ao lado de outras mães vivendo a mesma situação, acompanhadas pela equipe de profissionais do Instituto Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Adriana conta como a notícia de que havia tido zika “mexeu” com o seu emocional. “Eu parei de ficar vendo as reportagens sobre o assunto porque estava ficando depressiva”. Ela diz que tudo vai bem com a criança, como mostraram os dois exames de imagem feitos no IFF, mas ainda assim não dá para escapar da ansiedade.

Como Adriana, outras gestantes tiveram que aprender a lidar com a expectativa e o desconhecimento sobre a doença transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti, que pode provocar alterações congênitas no feto — entre outubro de 2015 e meados de março deste ano, houve a notificação de 6.671 casos suspeitos de microcefalia, 907 já confirmados, de acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde de 19 de março. 

A epidemia de zika congênita desafia o sistema de saúde a garantir o cuidado adequado, da atenção básica à especializada. Entre os dilemas a serem superados na área da assistência, está a dificuldade em fazer um diagnóstico preciso, capaz de diferenciá-la de outras viroses semelhantes, como dengue e chikungunya. Também para profissionais e gestores do SUS, a doença e suas consequências ainda pouco conhecidas, tanto em adultos quanto em bebês, mostram que há muito o que aprender, como apontam os especialistas ouvidos por Radis. Organizar as redes de atenção para oferecer o atendimento necessário exige do SUS a capacidade de responder com rapidez a essa nova demanda de saúde pública, além de planejar estratégias para enfrentar as marcas do zika que devem ser sentidas nos próximos anos.

Cuidados básicos
A maior parte dos sinais variam de pessoa para pessoa e podem até passar despercebidos: febre baixa, dores nas articulações, algum grau de inchaço nas mãos e nos pés. O principal alerta tem sido dado pelas manchas vermelhas na pele, chamadas pelos médicos de exantema, que também não aparecem em todos os casos. “Em si a zika não é uma doença debilitante, que te põe na cama como a dengue, não tem febre alta e não provoca muita dor”, explica a médica Celina Boga, responsável pela Coordenação do Cuidado do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (Ensp/Fiocruz), que integra a rede de atenção básica da região de Manguinhos, no Rio de Janeiro. Porém, esses sinais que aparentam ser mais “leves” não podem ser desculpa para negligenciar o cuidado. “A zika é uma doença nova, pouco conhecida, e até agora ela tem mostrado que é particularmente cruel com a gestante”, relata.

Ao primeiro sinal, que costuma ser identificado principalmente pelas manchas vermelhas, o doente deve procurar uma unidade de pronto-atendimento. Essa recomendação é ainda mais urgente para as grávidas. “Se a gestante suspeita que está com zika, ela deve buscar imediatamente a equipe de saúde da família, caso esteja vinculada a alguma, ou o serviço de saúde mais próximo de sua área de moradia”, recomenda a médica. Não buscar atendimento ainda é uma prática frequente, principalmente entre adultos e crianças de mais idade, avalia Celina. A estudante Anastácia dos Santos, moradora da Vila Turismo, uma comunidade de Manguinhos, conta que teve sintomas de zika, como febre e manchas na pele, mas não procurou o serviço de saúde logo de cara, com receio da demora. 

Dificuldades no diagnóstico
Até o momento, a oferta de diagnóstico laboratorial é garantida apenas às gestantes com suspeita de zika. Para os demais doentes, a resposta é dada somente pelo exame clínico, de responsabilidade do médico. Esse ainda é um impasse para a assistência e a vigilância epidemiológica. “Como é difícil distinguir clinicamente zika, dengue e chikungunya, é muito provável que uma parcela substancial dos casos notificados como dengue, talvez entre 20 e 30%, sejam na verdade as outras duas viroses”, aponta Guilherme Ribeiro, infectologista da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e do Centro de Pesquisas Gonçalo Muniz (CPqGM/Fiocruz Bahia).

Segundo o pesquisador, pode ocorrer de pessoas com dengue não buscarem atendimento ou mesmo procurarem tardiamente, o que prejudica o cuidado. “Com a demora, perde-se o tempo de intervenção nos casos de dengue, cujos riscos de evolução para uma dengue grave existem e o tratamento oportuno com hidratação pode mudar o curso da doença”, analisa. Para Guilherme, esse impasse atrapalha a contagem correta do número de casos e apresenta um potencial problema para a condução clínica da doença, seja ela zika, dengue ou chikungunya. “O que tem sido recomendado é que, na dúvida, trate como dengue, porque é a mais grave num primeiro momento”, explica.

O diagnóstico laboratorial se faz mais necessário nos casos de zika congênita (transmitida da mãe para o feto) ou de complicações neurológicas em qualquer idade, pontua Guilherme. “Infelizmente, não temos uma estrutura instalada no país para fazer a confirmação laboratorial”, acrescenta. Atualmente existem cinco laboratórios públicos credenciados para o exame que procura o vírus no sangue ou na urina — localizados nas unidades da Fiocruz no Rio de Janeiro, Paraná e Pernambuco, no Instituto Evandro Chagas (Pará) e no Instituto Adolfo Lutz (São Paulo). Instituições como Fiocruz e Universidade de São Paulo (Usp) trabalham para desenvolver um kit diagnóstico para ser utilizado em larga escala (Radis 161). O desconhecimento gera angústia, conta o médico. “Para a mãe e o pai de uma criança que tem uma síndrome congênita, como a zika, a confirmação traz o benefício de acalmar e afirmar com mais certeza o que causou”, considera. 

Eliane está no quinto mês da gestação de Entoni. Segundo ela, a sensação ao ver notícias sobre zika na TV é apavorante. “Fico de olho se tem foco de mosquito na minha casa e no vizinho, até nas tampinhas de garrafa”, conta. Mesmo não ouvindo muitos relatos de casos em Manguinhos, onde mora, a sensação de perigo está sempre presente. Ela faz o pré-natal no Centro de Saúde da Ensp e recebeu orientações a respeito de prevenção e cuidados para eliminar os criadouros do Aedes e se proteger contra as picadas. Quando vai visitar a família em Duque de Caxias (RJ), onde ouviu sobre muitos relatos da doença, ela usa roupas de mangas longas e não dispensa o repelente, de acordo com orientação médica.

Perto dali outra gestante aguardava para fazer o exame laboratorial de zika, no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (Ini/Fiocruz). O marido havia tido os sintomas quinze dias antes e ela preferiu procurar o serviço de saúde para ficar mais tranquila. Enquanto aguardava, o casal descreveu que a sensação é de pânico. “Não temos uma gestação tranquila”, disse a mãe, que pediu para não ser identificada. O Centro de Saúde, em parceria com o Ini, tem recebido grávidas com suspeita de zika vindas não somente do Rio de Janeiro, mas de cidades vizinhas — as gestantes fazem o exame laboratorial, recebem orientações e, caso seja confirmado que tiveram a doença, são orientadas para o atendimento no IFF.

Numa terça-feira de março, a médica Celina acabara de conversar com uma mãe que tinha suspeita de zika e aguardava o resultado do exame. “Absolutamente apavorada” foi como a médica a descreveu. Segundo Celina, embora não seja uma doença que debilite, a zika perturba emocionalmente as grávidas. “Muitas gestantes chegam aqui assustadas, com informações duvidosas, recebidas em outros serviços de saúde e que não conferem com a verdade”, relata. Para ela, os próprios profissionais encontram dificuldade para lidar com o desconhecimento.

Para superar essa limitação, a médica elaborou um guia instrutivo com orientações às grávidas, para ser utilizado pelas equipes de saúde da família em Manguinhos, especialmente os agentes comunitários. “Tem sido difícil desfazer alguns conceitos que as pessoas já trazem de sua própria história, de sua cultura e da falsa informação”, conta. Pediatra, ela trabalha diretamente com aids, tuberculose e outras doenças infecciosas desde o início dos anos 1990. “A gente tem que admitir que não conhece bem uma determinada situação de saúde pública”, pondera. Mas as perguntas ainda sem resposta, ela considera, não podem justificar o imobilismo.

Segundo a médica, o primeiro passo para enfrentar a epidemia de zika congênita é garantir a oferta de acompanhamento pré-natal. Ela também destaca o papel dos serviços de atenção básica no acolhimento e na condução do primeiro atendimento. De acordo com o Protocolo de Atenção à Saúde e Resposta à Microcefalia associada ao Vírus Zika, divulgado pelo Ministério da Saúde, a equipe de saúde da família deve acolher a gestante com suspeita da doença e suas angústias, dúvidas e medos, com apoio dos profissionais de saúde mental do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf). A ocorrência também deve ser registrada na caderneta ou cartão da gestante.

É a primeira vez de Tatiane na sala de espera do IFF/Fiocruz. Moradora de Piabetá, bairro do município de Magé (RJ), a grávida de 28 anos está no sexto mês da gestação. A zika, constatada por um exame na Fiocruz, ocorreu entre o quarto e o quinto mês. Até agora tudo parece bem com o bebê, mas ainda assim ela espera a confirmação pela ultrassonografia no IFF. O nascimento da menina, que deve se chamar Juliana, está previsto para o início de junho. À espera de respostas sobre a ação do vírus em sua gestação, Tatiane conta que conhece bem essa angústia porque, no início da primeira gravidez, teve toxoplasmose, outra doença que também pode causar malformações congênitas. Para o primeiro filho, hoje com 3 anos, não houve consequências. 

Ainda assim, ela não gosta de acompanhar as notícias sobre zika na TV: “Eu tiro da minha cabeça para não pensar nas consequências da doença”, confessa.
O médico responsável pelo atendimento a essas gestantes é José Paulo Pereira Junior, especialista em Medicina Fetal do IFF/Fiocruz. Ele destaca que, para uma grávida, ter tido zika não significa que o bebê nascerá com microcefalia, condição que afeta o cérebro da criança, que tem o perímetro cefálico (medida da cabeça) menor do que o normal. “É importante dizer que, de todo mundo que tiver a doença, a maioria dos bebês não vai ter nada”, esclarece, a partir de dados de um estudo realizado em parceria com o Ini/Fiocruz e outras instituições. Ainda assim, ele enfatiza que a microcefalia não é a única consequência do vírus zika na gravidez. “Todo mundo fala da microcefalia, mas ela é apenas uma parte do espectro associado à doença”, constata.

Enquanto esperam o exame de ultrassonografia, outras gestantes conversam sobre as sensações da gravidez, comentam sobre os nomes de seus bebês e trocam impressões sobre a ansiedade em relação à zika. Adriana conta que pegou três conduções para sair de Belford Roxo (RJ) e chegar no IFF. Ela diz que não se importa em levar falta no trabalho para vir fazer o exame. “Prefiro largar tudo para não perder o atendimento, porque pelo menos aqui tenho a certeza de que eu estou sendo bem acompanhada”, relata. 


Autor:  Luiz Felipe Stevanim
Revista Radis

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Projeto prevê o controle da superpopulção de animais

O Projeto de Lei sobre o controle de reprodução de animais vem sendo preparado pelo vereador Genivan Vale (PDT), em parceria com entidades protetoras dos animais, veterinários e profissionais que defendem a causa. O parlamentar vem realizando reuniões com este público e colhendo informações e propostas para aprimorar a matéria. 

O projeto tem como principal objetivo reduzir a superpopulação de animais de rua, com medidas de controle à reprodução e o incentivo à adoção de animais, entre outras. As ações possibilitarão reduzir os índices de abandono e maus-tratos aos animais. 

Além disso, mais do que ações de proteção aos animais, o projeto de lei visa assegurar melhorias na saúde pública. Isso porque o crescimento da população de animais de rua aumenta o risco de surgimento exponencial de doenças entre estes animais, que não recebem vacinas ou cuidados. Essa situação pode se estender aos humanos, que podem ser contaminados com a transmissão da raiva ou Calazar, por exemplo. 

Reunião no MP discute reativação do Centro de Zoonoses

O vereador Genivan Vale (PDT) e representantes de entidades protetoras dos animais se reuniram na tarde desta quarta-feira, 18, com o promotor Domingos Sávio para discutir ações de controle à superpopulação de animais domésticos. O encontro ocorreu na sede do Ministério Público (MP). 

A reunião teve como intuito solicitar o apoio do MP para o desenvolvimento ações que possam viabilizar o Projeto de Lei, que será apresentado por Genivan Vale, sobre o tema acima citado. A principal medida requerida ao órgão é a intervenção para a reativar o Centro de Controle de Zooneses (CCZ). 

“Não adianta apresentarmos um projeto sobre o controle da superpopulação de animais, se não houver no Centro de Zooneses as condições necessárias para implementar as medidas previstas na matéria. Por isso, procuramos o apoio do Ministério Público nessa luta, para que esse projeto não seja apenas mais um que só existe no papel”, destaca o vereador. 

Genivan Vale lembra que existe previsão orçamentária de R$ 200 mil para a reforma do Centro de Zoonoses. “Nosso mandato quem alocou a emenda para o orçamento de 2016”, destaca. Diante do exposto, o parlamentar, em consonância com os representantes de entidades protetoras de animais, solicitou ao MP que possa intervir junto à Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM) para que este recurso possa ser aplicado ao fim destinado. 

Além da reforma, as entidades protetoras de animais pedem condições estruturais para o Centro de Zoonoses poder desempenhar o seu papel. A representante da Marcha Mossoroense de Defesa Animal, Cláutia Sheila, relata, por exemplo, deficiências na realização do teste de Calazar. 

Ela afirma que o referido teste tem uma sensibilidade muito grande, o que leva a ter muitos exames com falso positivo para Calazar. “O órgão precisa fazer um teste confirmatório, usando uma técnica mais específica, para não correr o risco de animais serem sacrificados sem estar realmente com a moléstia”, declara.  

Também há relatos de eutanásia de cães sem anestésico, segundo informações colhidas em reunião anterior entre protetores dos animais e o CCZ. No encontro com o MP, ainda foram solicitadas providências para as denúncias de insuficiência de material encaminhado pela Prefeitura de Mossoró para o Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Hovet/Ufersa), o que inviabiliza o trabalho de castração dos animais. 

PROVIDÊNCIAS
Após ouvir o relato dos presentes, o promotor Domingos Sávio agendou uma nova reunião para a próxima quarta-feira, 25, às 14h, com a Secretária Municipal de Saúde, Leodise Cruz, e a diretora do Centro de Controle de Zoonoses. Na ocasião, serão discutidas questões sobre a reestruturação do CCZ, o reteste de Calazar, o fornecimento de insumos ao Hovet necessário à castração de animais e o sacrifício de animais. 


Também ficou aprazada uma audiência para o dia 21 de junho, onde deverá ser assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o município com o objetivo de reestruturar o Centro de Controle de Zoonoses e o desenvolvimento de ações de controle populacional dos animais de rua.